por Edson Oliveira
Quando eu era adolescente, tinha um amigo que sempre jogava videogame no modo hard. Naquela época, só tínhamos o Atari, então o termo era “difficulty”.
Quando chegava sua vez, ele dizia “Põe no difficulty”.
Um dia perguntei o porquê de ele fazer isso, recebi a seguinte resposta:
“Todo mundo joga no modo mais fácil. Então, quando vão jogar contra outra pessoa, sentem o peso. Eu acostumei a jogar no modo difícil. Jogar um contra um é tranquilo pra mim.”
Outro exemplo: em 1998, Ronaldo da Costa, maratonista brasileiro, bateu o recorde da Maratona de Berlim, com 2h06m05s, o que significa que ele foi o primeiro maratonista a manter um ritmo de menos de 3 minutos por quilômetro.
O segredo: o atleta padrão corre, durante o treino, usando distâncias e velocidades menores do que aqueles praticados durante uma prova “pra valer”. Ronaldo não fazia assim, ele treinava num ritmo mais forte do que o necessário para a prova. Assim, enquanto os outros corredores guardavam um fôlego para o Split final (aquela última acelerada antes da linha de chegada), Ronaldo mantinha um ritmo firme.
Tudo porque ele treinava em modo hard.
(Claro que, depois que o “segredo” foi revelado, outros atletas passaram a fazer isso. Hoje é padrão)
Qual é o objetivo dessas memórias? Bem, o objetivo é perguntar se você vive no modo hard ou no modo easy. Como disse Rocky Balboa, “Ninguém vai te bater tão duro quanto a vida”, e, aqui, o jogo é sempre pra valer.
Quando somos crianças, é comum ouvirmos a pergunta “o que você vai ser quando crescer?”, e a resposta normalmente é médico, advogado, jogador de futebol, ou qualquer outra profissão que nos faça ficar rico.
A próxima pergunta, já adolescentes, é “o que você está fazendo para alcançar seus objetivos?” (Se bem que, essa pergunta costuma nos perseguir por um bom tempo depois da adolescência…), e a resposta costuma ser “estou fazendo um curso”, “entrei na faculdade tal”, e, mais atualmente, “estou bolando um negócio com uns amigos”.
A pergunta que eu quero acrescentar é: “Como você está fazendo par alcançar seus objetivos?”
Numa época em que podemos postergar algumas matérias na faculdade, é comum ver estudantes fazendo as aulas mais fáceis primeiro, e deixando as mais difíceis para o final. Em termos de corrida de longa distância, permitem se desgastar por um trajeto longo e plano, e deixam a subida par ao final (São Silvestre, um abraço).
Em termos empresariais, equivale ao funcionário que é contratado para uma função, com chances de promoção, mas teima em não evoluir, porque seu cargo não exige. No momento em que surge uma promoção compulsória, seja por tempo de serviço, ou por um cargo que ficou vago, o peso da responsabilidade cai com muito mais força, gerando antipatia, stress, erros, úlcera, cardiopatia, queda de cabelo…
Sun Tzu, Confúcio, os Vedas e até a Bíblia têm orientações nesse sentido, mas eu quero resumir na seguinte frase:
“Nem sempre você terá que correr mais rápido ou bater mais forte. Isso não significa que você não tenha que ser capaz de fazê-lo.”