por Vinícius Schiavini
Vamos falar de Jesus.
Não, senta a sua bunda aí e você vai ler o que tenho a escrever.
Este texto está indo ao ar na Sexta-Feira Santa. Quer dia melhor pra isso?
A Semana Santa é, literalmente, a semana que mais trabalho no ano. E nada a ver com aulas ou Kombo. Falo de Igreja, já que sirvo na Igreja Católica e tem coisa todo dia acontecendo.
Na Quinta, eu tenho de tocar a matraca, que é um dos cinco instrumentos musicais mais irritantes de todos os tempos. Eu sei disso porque eu tenho os outros quatro, em uma tentativa dos meus amigos de que eu monte a pior banda do mundo.
Na Sexta, eu tenho de andar a procissão toda de costas, pra controlar as coisas. E ajudar a preparar. E já tive de carregar uma Acólita que teve uma crise nervosa e desmaiou e, no meio do processo, caí em um bueiro e tive de sair de lá usando as pernas, já que ainda a carregava.
No Sábado, tenho de talhar o círio, que é essa vela gigantesca. E já tive de fazer isso faltando cinco minutos. E preparar o fogo e carregar o fogo pra frente da igreja.
Isso, na verdade, não é nada.
Porra nenhuma.
Eu poderia ficar contando todo o significado, mas você já sabe, né? Jesus foi pra Jerusalém já sabendo que ia se ferrar. Instruiu os Apóstolos na Última Ceia (“fazei isso em memória de mim”, ele disse) sabendo disso. Judas o traiu e ele sabia. Aí ele foi, apanhou pra dedéu, foi pendurado pelos pulsos (sabe aquilo de pregos nas mãos? Aquilo rasgaria as mãos. Eles pregavam os pulsos.) e morreu.
Ele fez tudo isso porque sabia que voltaria? Não. Ele sabia que voltaria, mas fez porque valia a pena. Ele olhou para as pessoas que ajudou, os pobres, as pessoas mal-tratadas e largadas, os abandonados pela sociedade… e viu que valiam a pena. E viu os que gostavam de julgar, apedrejar (figurativamente ou não), condenar… e viu que também valiam a pena. Porque todos valem. Os últimos serão os primeiros por sua modéstia… mas não quer dizer que os que eram primeiros, que agora são os últimos, não serão atendidos.
Todos valem a pena. Todos possuem valor.
O morrer e voltar é o ato final de toda a questão de Jesus mostrar que não era só mais um profeta. Entenda que existiam profetas por aí. Alguns falavam no Templo, como Jesus fez, e outros tinham seguidores… Aí ele começa a transformar bebidas, andar sobre as águas, e todo mundo falou um “êpa, esse aí é diferente”. E isso deixou, claro, os poderosos bravos.
E olha que Jesus disse “vou destruir o Templo e o reconstruirei em três dias”. Ele falava das velhas crenças encarando novas. Ele falava desse momento em que levanta na tumba e sai andando.
O importante não é só o voltar. Voltou, sim, e aí botou pra quebrar. Mas morreu. Não foi uma coisa rápida. Foram horas e horas apanhando, tendo ossos quebrados, sangrando. Tudo devidamente encarado.