[Contexto] Poteca

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por Ana Balderramas

Preciso contar sobre a minha primeira vez. Foi difícil no início. Quando me deparei cara a cara com o dito cujo, ele me pareceu bem menor do que eu imaginava e pior: não tão duro quanto eu esperava! Eu não sabia se estava preparada, mas encarei, afinal, várias amigas minhas também estavam encarando. Consegui botar lá dentro, foi mais fácil do que eu imaginei, nem doeu. Minha vida estava prestes a mudar para sempre.

Não é de hoje que a gente ouve falar de uma invenção que causa polêmica por onde passa, entre homens e mulheres, meninos e meninas: o pequeno, arrojado, fenomenal, o coletor menstrual! Mas por que tanto furdunço por causa de um objeto tão bonitinho e inocente? É só um copinho maneiro, que drama. Olha, eu vou precisar me dar ao luxo de ser bem literal e escatológica a partir daqui, ok? Então guarda o nojinho e vem comigo.

Se você já usa o coletor, me abraça. Se não usa, dá uma chance pra ouvir a experiência da amiga aqui e veja se te dá pelo menos uma curiosidade de tentar. Não lembro quando foi a primeira vez que ouvi falar do tal coletor, mas como sempre tive uma relação muito saudável com a minha menstruação, minhas lembranças mais remotas sobre o assunto me levam a somente coisas positivas. Fiquei bastante curiosa, além de achar a ideia genial. Um copinho que coleta todo sanguinho dentro de você e não gera lixo nunca mais na vida? Genial me pareceu até pouco, mas eu não conhecia ninguém próximo que já tinha tido uma relação mais – com o perdão da expressão – íntima com essa novidade para compartilhar sua experiência comigo. Aquilo ficou guardado até que uma grande amiga me contou que estava usando o que ela tinha batizado de “Poteca” – o potinho de pepeca. Caí na gargalhada.

Para chegar nessa parte prática do uso do coletor, é preciso que se tenha um histórico bacana entre você, seu corpo, sua sexualidade. Acho que isso é fundamental. Se você não tem muita familiaridade com seu próprio corpo ou se tem nojo da sua menstruação, talvez o copinho ainda não seja para você. Sim, miga MENS-TRU-A-ÇÃO. Com todas as letras assim em caixa alta mesmo. 2016 e ainda tem gente que não gosta dessa palavra? É só sangue. Não é sujo, não é nojento, não é o fim do mundo. Essas são as duas coisas fundamentais para começar a utilizar o Poteca: ter intimidade com sua pepeca e não achar que a sua menstruação é digna de lhe causar arrepios. Comece a repensar nesses dois fatores por enquanto.

Eu já tinha isso tudo bem desconstruído em mim desde que me entendo como mulher. Foi um processo bem natural para mim, então já estava na vantagem, pois pulei a etapa de achar que o coletor seria algo nojento. Apenas contribuiu para reforçar essa veia ecológica em mim. Li por aí que uma mulher utiliza em média 10 mil absorventes descartáveis durante a vida. DEZ MIL! SÓ UMA MULHER! SOCORRO! Se eu disser que levo uma vida 100% ecológica, é mentira, mas cada nova escolha que tomo repensando a maneira de fazer as coisas do dia-a-dia para mim, já conta. Então, o lado ecológico conta bastante na hora de optar pelo Poteca, tem também o lado financeiro. A gente gasta uma pequena fortuna comprando os absorventes descartáveis durante toda a vida. Pense em como seria ótimo gastar esse dinheiro com “brusinhas” maravilhosas ao invés de ficar comprando palmilhas de sapato de algodão com abas?

Agora, partindo para a prática: comprei meu coletor e era a hora da ação! Demorei meses pra conseguir usar ele de verdade – meh! Sempre acontecia alguma coisa que me impedia de testar o Poteca ou era meu subconsciente me sabotando. Eu poderia estar, lá no fundinho da minha mente, morrendo de medo de tentar, sei lá, vai saber. Mas meses depois eu consegui. Primeiro você compra uma panelinha ou recipiente específico para poder ferver e esterilizar seu coletor – o meu é roxinho, super lindo. Fervi. O próximo passo era conseguir colocar ele lá dentro. No folhetinho tinham diversos origamis de Poteca, ou seja, vários exemplos de dobras. Ele é feito de silicone maleável e eu fiz a dobra que me pareceu mais intuitiva. Fácil. Na hora de colocar também não tive grandes problemas – depois que já está todo lá dentro é só soltar a dobra e ele se adapta e faz um vácuo no canal vaginal. Não tinha certeza se o vácuo tinha realmente acontecido, mas entreguei, acreditei e fui. Passei o dia todinho fora de casa – dá pra ficar até 12 horas com ele. No primeiro uso não tinha cortado a pontinha do coletor e ele me incomodou BASTANTE em algumas partes do dia, principalmente quando sentada. No segundo uso já cortei essa pontinha e agora é super confortável, não sinto nada. Bem diferente da sensação bizarra de ter uma palmilha de sapato encharcada no meio das pernas o dia inteiro. Chegando em casa fui tentar tirar puxando pela pontinha do Poteca e eita – O TROÇO NÃO SAÍA DE JEITO NENHUM! Mantive a calma e pensei – eis o vácuo aí, vou ter que dar um jeito nisso. Apertei a base do coletor para eliminar o vácuo e ouvi um PLOFT milagroso. Daí foi só puxar e, ao som de sinos angelicais, estava diante de mim o lindo coletor roxinho, em todo o seu esplendor com uma merrequinha de sangue dentro. E foi aí que encerramos nossa primeira vez, eu e ele, ambos felizes, intactos, satisfeitos. E minha vida mudou para sempre por mais um fator único que só o coletor me proporcionou dentre esses 25 anos.

NÃO TINHA CHEIRO RUIM NENHUM! Nadica. Zero. Nothing. Só um fraco cheiro de sangue. Logo pensei: EU TE AMO PRA SEMPRE, COLETOR! Eu achava que aquele cheiro desagradável que eu sempre odiei era natural da menstruação, mas naquele momento eu descobri que ele só acontece por conta do contato do sangue com o ar. Com o Poteca o sangue fica lá dentrinho da gente e não causa o cheiro que os descartáveis causam. Sério, minha vida mudou. Para mim foi a melhor vantagem do copinho até agora, e olha que a experiência já tava sendo bem positiva. Além disso, nem precisava tocar em nada “nojento” pra descartar o sangue, lavar com água e sabão e recolocar. Eu achei menos desagradável do que aquela visão de framboesas atropeladas na palmilha (risos). Fui legal e falei framboesas, porque na minha cabeça vieram analogias muito piores. Então se for pra falar de nojeira, eu acho o absorvente descartável bem pior. Fica um monte deles enrolados na lixeira do banheiro sabe Deus quantos dias e o sanguinho do coletor desce pia abaixo e ninguém nunca mais vê, c’est fini. Então, miga, já repensou que de nojento o coletor não tem nada?

Ao fim do nosso primeiro ciclo dei aquele tratamento vip pro meu, já querido, Potequinha. Banho borbulhante e escaldante na panelinha específica dele para esterilizar novamente. Guardei no saquinho de pano dele, botei pra dormir. E até o próximo ciclo, meu amor. Te amo.