por Ronaldo Silva
Você já viu as centenas de fotos e vídeos que amigos e amigas postam quase diariamente de seus filhos. Tudo lindo e maravilhoso. Dezenas, centenas e até milhares de curtidas. Aí chega a sua vez, que beleza! Meus parabéns! Amigos e parentes cheios de alegria pela chegada desta pequena e frágil criatura cheia de fofura e carente de cuidados. Em tempos de redes sociais, tome postagens praticamente diárias desde o início da gravidez, com fotos, vídeos, etc. Quanta empolgação! Praticamente o nascimento de um super star, vejam só. Você até já começa a imaginar o twitter, instagram e facebook recheados de coisas a respeito de seu bebê, pra mostrar ao mundo o quão linda e maravilhosa é a criança. E espera acordar tarde no final de semana pra descansar depois de tantas coisas.
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
Venha, Luke. Vou te mostrar o lado negro da Força.
Ali você pode ver a conta mensal com fraldas, lenços umedecidos e outras coisas. Pode aumentar ainda mais se a criança não mamar no peito e necessitar de leite em pó, geralmente daqueles cujo preço sempre te fazem dizer “p#ta que pariu” como primeira, segunda e terceira reação. Na verdade, se você não for uma pessoa rica, esta vai ser a sua reação para muuuuuitas coisas nesta aventura. É uma pena que fralda não dá em árvore. E ó, não é qualquer fralda, pois determinadas marcas são a mesma coisa que um lenço de papel furado. E sim, pesquisar no Google quanto vale um rim no mercado negro pra calcular quantas fraldas daria pra comprar é normal.
Naquele outro lado ali, você pode ver também um dos grandes mistérios da humanidade: “Como é que uma coisinha tão pequena pode c@g@r tanto assim? Goku, me ajuda!” E o Kuririn morreu só de sentir o cheiro. De novo.
Amiguinhas e amiguinhos, nem adianta invocar Sheng Long. Vai ter situação em que você vai desejar que as crianças fossem feitas pela Brastemp e quando acontecer o cosplay de desastre de Chernobyl de bosta, que tudo pudesse ser resolvido desatarrachando a parte de baixo da criança e substituindo por uma novinha em folha. Deu até pra imaginar a sensação do cheirinho de novo, recém saído do plástico né?
Continuemos a nossa jornada por este lado da aventura que ninguém te conta: olha ali a Sra. e o Sr. Silva na sala de espera do pediatra. Marcaram a consulta há 1 mês para as 9:00, mas o relógio já marca 10:30 e ainda tem pelo menos umas 6 crianças na frente, sendo que o prazo médio de atendimento por criança, segundo o Sr. Silva acabou de perceber, é de 15 minutos.
Ah, é verão e o ar condicionado está parado para manutenção. Delícia de dia!
Ih, um dos pequens pacientes, ao brincar com o Sr Silva, vomitou nele. Existem relatos de que determinadas pessoas nesta situação começam a divagar sobre Física e teorizam viagens no tempo com a finalidade de voltar ao passado e cortar o próprio saco fora.
Tudo exagero, claro. Obviamente o que gostariam de ter feito é ter o órgão genital selado a vácuo e com silver tape. Não fique muito tempo com essa imagem na cabeça, caro leitor e cara leitora. Sigamos em frente!
Vejam ali do lado direito: a quantidade de coisas pra carregar. Uma dica: mosquetões são grandes aliados na hora de carregar muitas coisas juntas. O que nos leva a um momento sublime de pura divagação: a natureza não foi muito sábia conosco. Durante a gestação, mães e pais deveriam desenvolver um par extra de braços, no mínimo. Tanto para carregar um monte de coisas, quanto para lidar com aquelas crianças que não conseguem ficar quietas enquanto você tentar trocá-las. Imagina tentar lidar com um polvo que tomou 5 litros de café. Lembra do Chernobyl de cocô mencionado ali em cima? Agora imagine trocar uma criança nesta situação como se ela estivesse no clima de Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. “Senhor, por que me abandonaste?”
Agora uma das partes mais legais: a privação do sono. Não, não é legal pra você. Também não é legal para a criança. Mas é legal para alguém, mesmo que você não saiba quem. E talvez nunca saiba, pra falar a verdade. Enfim: tá cansada depois de um dia intenso? Espera dormir pelo menos umas 6 horinhas para recuperar um pouquinho da sua dignidade? É neste momento que toca na sua cabeça aquela campainha de resposta errada dos programas de auditório. “Roqueeeeeee!”
Entretanto, vou te dar um pouquinho de esperança: na verdade essa parte é tipo uma loteria ou aquele programa da roleta do Silvio Santos. Seria um “Roda a roda, preciso dormir.”
Meu primeiro filho passou a dormir a noite toda quando fez 1 mês e meio de idade. E dormia pra caramba. Até hoje é dorminhoco. Já o segundo…Bom, voltamos aqui ao desejo de que bebês fossem feitos pela Brastemp e que além da função auto limpante e modo silencioso, também tivessem a opção de desligar ou a função hibernar.
Outra coisa na qual você pode ter sorte ou não é em relação a parentes e amigos. Pode acontecer de ter sempre aquela pessoa chata que diz que sabe de tudo, cheia de banca porque já criou n filhos e acha que todos são iguais por toda a eternidade do universo. Calma aí, criatura. Ninguém sabe mais sobre a criança do que as pessoas que mais convivem com ela. E adivinha só quem são essas pessoas? Eu já perdi a conta de quantas vezes fui parar no PS com a criança no colo só porque a tal da pessoa super experiente e infalível achou que por qualquer febre, era para corrermos com a criança para o hospital. Até que finalmente, um médico disse o que eu já vinha dizendo há 6 meses e a neurose parou. Não a neurose total, mas só aquela neurose da febre. Arrumaram outra rapidinho. E tome mais alguns meses dizendo coisas que só foram entender bem depois.
Mas aí você me pergunta: “Nossa, é tão ruim assim?” Ou diz: “Nossa, que insensível.”
<Jack estripador mode on > Depende. Pode ser tão ruim, pior ou nem tão ruim. Você pode até tirar de letra. Vai depender da sua filosofia de vida, da pessoa que você se tornou mediante suas experiências e todo aquele blablabla filosófico que você já deve ter lido em muitos textos por aí. Talvez pudéssemos resumir isso a um “É como você reage sob pressão intensa e contínua.”
Sobre a suposta insensibilidade deste que vos escreve, não é lá muito sábio se meter (o duplo sentido não foi intencional, eu juro) em algo que você não tem idéia de como realmente funciona. Pelo menos não em algo tão importante que é cuidar de outra pessoa que passa a ser a coisa mais importante da sua vida, sem discussão. Insensível é a negligência da qual tomamos conhecimento em vários casos, desde ao clássico “vou ali comprar um cigarro e já volto” até a falta de acompanhamento no desenvolvimento e na educação. E sejamos sinceros: assim como nem todo mundo tem talento para esportes, artes e tantas outras coisas, o mesmo vale pra maternidade e paternidade. Ainda mais porque envolve uma grande dose de responsabilidade e comprometimento que nem todo mundo tem. Ou que mesmo que não tenha, dificilmente vai ter capacidade pra desenvolver. < Jack estripador mode off>
Uma coisa é verdade: aprendemos no caminho, fazendo, metendo a mão na massa (ou no cocô mesmo). Não há nada que nos prepare para isso. Mas sendo uma pessoa responsável e dedicada, você chega lá.
E falar sobre coisas ruins e desagradáveis deveria ser mais comum na vida das pessoas. Afinal de contas, é melhor enfrentar situações difíceis com a cabeça no lugar, por já ter uma idéia do que vem pela frente, do que cair numa situação de negação e depois ficar batendo cabeça em desespero. Pois não dizem que o sucesso é quando o preparo encontra a oportunidade? Ou faça como aconteceu no Rio de Janeiro: construa uma ciclovia bem chulé, numa área onde as ondas podem bater bem forte , mas sem esperar que isso aconteça. Só faltou usar Lego.
A maternidade e a paternidade são construções complicadas, que exigem dedicação e seriedade, para dizer o mínimo. Mas quando aquela coisinha miúda sorri para você e gargalha com as suas palhaçadas, você se dá conta de que a natureza é perfeita e nenhuma Brastemp poderia te proporcionar algo tão sublime e cheio de amor.
Mas o par extra de braços viria a calhar sim.