por Vinícius Schiavini
A imagem acima é do clipe de “Mission Statement”, do Weird Al Yankovic, e nos últimos tempos eu tenho estudado muita coisa ligada a startups e empreendimentos e tudo isso, e sempre usam muitos termos em inglês. Eles entregam que você deve aprender todos os termos para ser bom e, ao final, poder sorrir.
Agora vem comigo para uma linha de raciocínio.
Services And Deliverables, ao membro-inferior-pertencente-à-integrante-do-alfabeto, quer dizer “Serviços e Entregáveis”. Ou seja, basicamente reúne em duas palavras todos os tipos possíveis de transações: aquelas que envolvem algo físico e aquelas que não envolvem. Coisas tangíveis e intangíveis.
Ou seja, se você compra uma camiseta, você está comprando algo entregável, algo que é possível entregar. Com o advento do sedentarismo viral, essa praga que exige que as pessoas modernas não se mexam mais para nada, a ideia de ir a uma loja comprar uma camiseta soa antiquada.
Um serviço é, por exemplo, algo que te afeta mas você não toca. Quando você liga o rádio e ouve informações sobre o trânsito, é dito que a emissora está fazendo o que? Prestando um serviço, que é a transmissão dessa informação.
Ok, eu basicamente falei muita coisa que você já sabe, mas o ponto fundamental é que todos nós estamos sendo extremamente reduzidos a isso. Outro vírus que está pegando as pessoas é o que reduz, intelectualmente falando, as outras pessoas a “serviços” e “entregáveis”.
No dia a dia, com a correria, as pessoas cada vez mais analisam as outras somente sob estes parâmetros, o que é algo extremamente execrável, pra dizer o mínimo. O conceito de que as pessoas devem ser analisadas como pessoas, com todas as suas vertentes e possibilidades e pensamentos e sentimentos, é algo antiquado, veja só.
Ainda bem que sou antiquado.
Vamos a exemplinhos? A conversa com B porque B tem um sistema específico para transmissão de mensagens. E aí A se torna parceira de B para que possa usar o sistema, e aí A se afasta. B, para A, foi uma pessoa “serviços”.
Pior ainda é se pensarmos em C, que dependeu de D para a produção e entrega de um relatório do departamento. D acabou sendo uma pessoa “entregáveis”. D gerou um produto cuja entrega satisfez C.
Colocamos toda essa questão em ambientes de trabalho, claro, porque termos como “serviços” e “entregáveis” são muito relacionáveis a isso, mas vou levantar questões que você talvez não tenha como responder:
Como você trata as pessoas que te amam?
Como você lida com alguém que assumidamente, claramente te ama? E nem preciso falar de potencial cônjuge, mas mesmo irmãos e amigos próximos. Porque é muito fácil dizer que atingiu o potencial de ter um milhão de amigos se todos eles são bolinhas no chat e, quando eles querem ter a chance de dar um singelo abraço, você tem vergonha. Afinal, CLARO, a pessoa serve pra te dar apoio quando você está pra baixo, mas não pra dizer pra alguém “olha, essa pessoa é importante pra mim”. Porque você tem vergonha.
Porra, te dei uma volta na cabeça agora, né? Calma que piora.
Sua família está em uma situação terrível, de alguém doente, tudo parece sem solução e fora do lugar, e aparece aquele amigo que chega, ajuda a organizar (serviço) ou até mesmo ajuda a obter algo importante para cuidar da pessoa doente (entregável). “Pôxa, obrigado, sem você eu não sei o que aconteceria”, você diz. E aí a família desse amigo passa por um problema, e você dá uns tapinhas nas costas no velório.
Que serviço você presta? Que produto está entregando? Um sorrisinho ao final?
Ao passo que você analisa as pessoas ao seu redor com esses dois parâmetros, você também cai na análise. E aí, subitamente, todos são simplesmente bens. Reclamando da empresa, que “me trata como só mais um número”, e fazendo igual com pessoas que, veja só, podem sempre mudar sua vida.
Não faça serviço de trouxa nem entregue sua dignidade. Faça dessa mudança sua missão.