[Contexto] Science, bitch!

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por Ronaldo Silva

Quando você lê ou ouve a palavra “cientista”, qual é a imagem que vem à sua mente?

    Suponho que seja a de uma pessoa com jaleco branco, tubos de ensaio nas mãos e fazendo algum experimento maluco. Bem, esse é um estereótipo deveras comum. Há uma certa mistificação a respeito de cientistas, de certa forma alimentada pela cultura pop e seus vários filmes e desenhos onde há um cientista louco ou simplesmente um cientista que comete um erro, que no final das contas resulta num apocalipse zumbi, por exemplo. Mas a realidade é que há muito sofrimento e entrega, acreditem. A vida social vai praticamente pelo ralo.

    Mas vamos deixar essa relação imprecisa de lado.  Conversemos sobre o método científico por enquanto: trata-se de um processo no qual ocorre a observação, a formulação de uma hipótese, a experimentação, a interpretação dos resultados deste experimento e finalmente a conclusão. Parece complicado? É necessário seguir rigidamente todas as etapas? Vou começar a responder pela segunda questão: não. Um bom exemplo a ser citado é o de Charles Darwin, já que ele passou aproximadamente duas décadas analisando os dados coletados em suas pesquisas mundo afora. Não passou pela parte da experimentação, e se você é da área de Ciências da Natureza, já deve saber o motivo. Se não é da área, pesquise. Será um bom exercício. E agora sobre a primeira pergunta: você realmente acha complicado?

    Observe um bebê em seus primeiros anos de vida. Ele pega os brinquedinhos colocados próximos a ele e a primeira coisa que faz quando os pega é levá-los à boca. E o fazem pois é a partir daí que começa a sua relação de experimentação com o mundo. Alguns autores afirmam que é o primeiro contato da criança com o mundo e começa inclusive mamando. Através desse mecanismo, elas experimentam diferentes sabores e texturas. Como uma pessoa com formação na área científica e pai de duas crianças, eu fiz o possível para observar bem essa fase. Quando eles pegam o objeto, há uma certa curiosidade na observação. O momento que precede o impulso de colocar o objeto na boca poderia ser análogo à formulação da hipótese. Depois da mordida, a interpretação dos resultados. E aí a conclusão: “Ei, eu gostei desse brinquedinho. É divertido!”

    Entenderam? É como se estivesse em nosso DNA. E nós usamos o método científico mais vezes do que nos damos conta e em várias coisas do cotidiano, sem percebermos. Então por que esta distância entre o popular e o científico? Não vou afirmar de quem é a culpa, se é que existe de fato um culpado. Ou único culpado. Mas sim, é de conhecimento geral ou pelo menos a sensação de que há uma espécie de abismo entre a população e o conhecimento científico. Alguns até podem afirmar que a ciência é elitista, os cientistas tratam o resto da população como idiotas, etc. Mas veja, todo lugar tem gente besta. Assim como existem aqueles que adoram a oportunidade de difundir o conhecimento e torcem para a sua popularização, existem também aqueles que “te olham de cima”. Eu mesmo já encontrei pessoas assim nesse meio. Mas as pessoas humildes, que tinham e têm um enorme conhecimento, valeram a pena. Algumas destas pessoas eu tenho a honra de chamar de amigos. Outras, foram excelentes mestres. Mas o fato é que a ciência não é um bicho de sete cabeças. Mas também não vá pensando que vai pegar um livro de Física Quântica ou Biologia Molecular e vai entender tudo da noite para o dia.

    E agora eu chego numa parte bem legal: a divulgação científica e os museus de ciência. Com a finalidade de mostrar que ela pode ser acessível e próxima do senso comum, , projetos como o Espaço Ciência Viva (RJ) ou o projeto Ciência Móvel, do Museu da Vida (Fundação Oswaldo Cruz, RJ) mostram que é possível resgatar aquela sensação que tínhamos de forma mais intensa quando éramos bebês. Desta forma, é possível desmistificar a ciência e caminhar rumo à satisfação do nosso anseio em compreender a natureza da qual fazemos parte.

    Neste novo mundo globalizado e cada vez mais conectado, com a velocidade de informação atingindo níveis vertiginosos, basta um clique para acessar artigos e outras mídias capazes de aumentar o nosso conhecimento e instigar a busca por mais informação. A ignorância de certa forma deixou de ser uma desculpa. Não é mais uma opção aceitável em muitos casos e com acesso facilitado à informação, só permanece na ignorância quem quiser. Por isso, não reprima a sua curiosidade. Deixe-a fluir e aproveite as diversas ferramentas à disposição.

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