[Contexto] “Para onde nós vamos, não precisamos de estrada.”

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por Ronaldo Silva

“Dinheiro não compra felicidade.”

Assim como vocês, caros leitores, eu também já ouvi e li muito essa frase ao longo da minha vida.

Com o advento e subsequente desenvolvimento da internet, chegando até a era das redes sociais, também já vimos a zoeira cantar solta com frases como “Dinheiro não compra felicidade, mas prefiro chorar numa Ferrari do que num ônibus lotado.” Ah, e não nos esqueçamos do famoso “…não compra felicidade, mas manda buscar.”

Numa sociedade extremamente e cada vez mais consumista, criou-se a cultura não declarada do “Ter para ser”. Quando você ouve que fulano ou fulana são bem sucedidos, automaticamente vem a seguinte imagem à cabeça: pessoas de muitas posses, com um conforto financeiro de fazer inveja. Ou quando andamos pelas calçadas e passamos ao lado de um casarão, nos admiramos e imaginamos como os donos do lugar são bem sucedidos.

É óbvio que ter dinheiro é bom. Há sim uma sensação de segurança e alívio quando você olha o seu saldo bancário e vê algo em torno de milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, etc. Você sabe que não vai precisar se preocupar em realizar malabarismos financeiros dignos de um Cirque du Soleil para pagar as contas. Lembram-se da expressão “vender o almoço para pagar a janta”? Pois bem, em um mundo cada vez mais insano, com a densidade demográfica de idiotas por metro quadrado aumentando em progressão geométrica, tanta doenças, distúrbios e problemas que já caem em nosso colo praticamente diariamente, não ter que se preocupar com as contas e se sentir seguro em um certo nível de conforto é algo muito bom.

Entretanto, qual seria a melhor coisa que o dinheiro compra? Seria só esse conforto, essa segurança? Seria o seu próprio Boeing, com itens banhados a ouro como o do polêmico Donald Trump? Imóveis em Paris, Nova Iorque e Londres? Não sei. Talvez seja uma resposta muito pessoal ou subjetiva. Mas vou compartilhar com vocês uma idéia que eu tive enquanto observava uma embalagem de lasanha no supermercado.

“Lá ia eu em busca de comida, saído de meus umbrais

Alegre e confiante, como tantos fizeram desde os tempos ancestrais…”

Não, espera. Desculpem a minha recaída. Então, lá estava eu na parte de congelados, compenetrado e buscando por algo que despertasse o meu interesse. Mas naquele dia, só havia lasanha. Foi aí que me deu o estalo!

A coluna doeu pra cacete e eu corrigi a minha postura, ao mesmo tempo em que retomava o meu pensamento: “A pessoa que está comprando isso, não está comprando uma lasanha. Está comprando tempo.”

Sim, tempo.

Quinze minutos no microondas contra mais ou menos uma hora de preparo? Não vou entrar no mérito da diferença de sabores (as lasanhas que meu pai fazia eram sensacionais), mas o que a pessoa comprou foi tempo. E essa diferença, digamos assim, de mais ou menos quarenta e cinco minutos, fora os quinze de preparo no microondas que a pessoa pode usar para fazer outra coisa, passa longe de ser desprezível.  Vamos usar outro exemplo: a máquina de lavar louça.

Imagina você chegar em casa e dar de cara com aquela pia lotada de coisas para lavar. Parece até uma versão bizarra de Jenga e a forma como panelas, pratos, copos e talheres estão empilhados é um verdadeiro desafio às leis da Física. Sem contar que depois de passar um bom tempo ali lavando tudo, parece que uma misteriosa fenda no espaço-tempo se abre e surgem mais coisas para você lavar. Dá até vontade de gritar: “Me ajuda, Stephen Hawking! Neil de Grasse Tyson? Bill Nye? Professor Pardal?”

Imaginou?

Novamente: tempo. Para utilizar em hobbies, para relaxar, se divertir com amigos e família, aprender novas coisas, focar em outros projetos. A pessoa consegue se concentrar naquilo que a faz feliz ou em coisas que a estimulam. É claro que sempre tem aquele ser babaca, que acha que ostentar é ser feliz. Provavelmente uma cria do “Ter para ser”.  Ao invés de buscar a edificação da própria vida e das pessoas à sua volta, principalmente as menos afortunadas, tudo o que lhe resta é o vazio.

Agora, partindo deste ponto de que o tempo “comprado” é um dos bens mais valiosos, creio eu que seria uma consequência natural pensarmos sobre o quão importante é a necessidade de organizarmos o nosso tempo.  Muitas vezes nos afundamos no trabalho, nos estudos, em disputas irracionais e tantas outras coisas, que nos esquecemos de marcar aquele encontro bacana com os amigos para revê-los. Ou visitar aquele parente que mora longe, cuja presença sempre traz boas lembranças que acalentam o coração. Ou mesmo tirar um tempinho para fazer uma brincadeira com os filhos, aparentemente boba, mas que pode ser uma deliciosa lembrança para eles no futuro. Então, talvez seja necessário reformular a idéia para “O dinheiro pode comprar mais tempo.”

E sendo tão valioso, já parou para refletir se o seu tempo está sendo utilizado da forma mais apropriada ou da forma que você gostaria para realmente fazer uma diferença em sua vida?

Tire um tempinho para refletir sobre isso. Garanto que será um bom investimento.