[Contexto] Meu ódio será a sua herança

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por Ronaldo Silva

“Ain, isso é discurso de ódio!”

“Malditos haters!”

 

    Você com certeza já leu ou ouviu isso, de forma exata ou semelhante. A ideia, a essência é sempre a mesma. Parece uma epidemia ou que a maioria das pessoas deixou as reações no automático. Tudo o que você disser ou escrever como crítica a algo ou alguém, tem uma chance enorme de ser classificado como “discurso de ódio” ou você ser rotulado de “hater”. Não importa se tem fundamento, se faz sentido ou se é tão óbvio que até um cego percebe: crítica, mesmo construtiva é percebida como ataque.

    E o ataque ao objeto de adoração tem que ser retaliado. Mas de que forma? Não dá para o mentecapto entrar na própria tela do computador, sair do outro lado, exatamente o lado do pretenso detrator e espancá-lo até a morte para ensinar-lhe uma lição. Então só resta atacar verbal e/ou virtualmente a pessoa. “Feio, bobo, cagado, mimimimimi, hater, discurso de ódio, mas fulano também é assim, aquele outro negócio é pior, etc.”

    Não que não exista o discurso de ódio e o hater em si. Sempre existiu. É aquela pessoa que diante de algo novo, tentando abrigo na própria ignorância devido ao medo do desconhecido, opta por rechaçar totalmente aquilo diante de si. “Bruxaria! Coloquem na fogueira!” E pode acreditar, tem muita gente até hoje prontinha para queimar umas bruxas por aí.

    Mas voltemos aos nossos (in)felizes rotuladores. Defensores ferrenhos de partidos, times, personagens, editoras, bandas ou qualquer outra coisa com as quais se identifiquem (talvez mais do que deveriam) e tão fanáticos quanto um terrorista do Estado Islâmico.

    Vai falar para um fanboy extremista do Batman que Batman v Superman foi uma porcaria perto do que deveria ter sido. Só de entrar no tópico Martha, pode apostar a sua vida que se pudesse, o camarada jogaria um avião na sua casa. Ou um fã xiita de Nightwish, com preferência declarada pela primeira vocalista, Tarja Turunen. Se você disser que a atual vocalista, Floor Jansen, canta melhor uma boa parte, a maioria ou todas as músicas do grupo, você e seus descendentes serão amaldiçoados por toda a eternidade.

    É uma coisa que a princípio parece engraçado, depois passa a patético e termina preocupante. Faz pensar coisas como “por que defender tanto algo assim?” Ou “a vida da pessoa é tão vazia e carente de realizações pessoais que será que ela toma para si as conquistas alheias para ter um doentio conforto psicológico?” Sério mesmo, tem gente que defende certas coisas com mais paixão e dedicação do que defenderia a própria mãe de um assassino cruel e sádico. E o fato de sermos uma raça belicosa, pronta pra arrumar briga por qualquer motivo fútil, não ajuda nem um pouco.

    Há uma evidente inversão de valores, onde quem busca o conhecimento e busca aplicá-lo, precisa ser discriminado. Se você tem um senso crítico mais apurado, tem conhecimento de narrativa e outros elementos, mas “tretou” com o queridinho de um grupo, já era.

    Falou mal de um partido político que vive nas manchetes em meio a escândalos de corrupção, mesmo você não sendo filiado a nenhum e na verdade quer mais que todos se explodam? Você vai ser rotulado com algum termo pejorativo. Aí nós vemos de quem realmente parte o tal ódio. Parece até aquela frase que tem circulado bastante nos últimos anos pela internet afora, porém atribuída duvidosamente a Lênin : “Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é.”

    De fato, um grande distúrbio na Força. Portanto, acredito que a melhor coisa seja evitar esse tipo de gente. Como diz uma amiga: “Não vou ficar batendo palma pra maluco dançar.” E realmente, não vale a pena se desgastar com pessoas mais tapadas do que uma porta. Afinal de contas, onde a burrice fala, a inteligência não dá palpite.