por Ronaldo Silva
Olá novamente. Não, não vou falar da regalia dos ratos que se dizem nossos representantes. Entretanto, vamos falar sobre outras regalias, que muitos de vocês já viram. Iniciemos com uma história baseada em fatos reais:
Marluce é casada com Bernardo. Este por sua vez é filho único e está em constante contato com a sua mãe, Regina. A mãe de Bernardo é viúva.
Desde que casaram, Marluce tem notado que a sogra tem sido um tanto quanto invasiva. Inclusive, a questiona com uma frequência enfadonha a respeito da alimentação do filho, o qual acha que está “muito magrinho, coitado”. Está sempre dizendo a ela e às outras pessoas o que fazer e como fazer, o que muitas vezes não dá certo. Afinal, bom senso e entusiasmo em dar instruções que não se aplicam a todo mundo, como se fossem regras imutáveis e 100% eficientes, são coisas que tendem a não combinar.
Pois bem, Marluce acha que entrou numa sinuca de bico, pois seu marido tem uma relação muito forte com a mãe e, além disso, ela não vê como seja possível dar aquele “toque” na viúva. Pois trata-se de uma senhora de 65 anos e isso poderia ser considerado desrespeito. Além disso, ela está sempre na casa do pai, o senhor Almir, de 90 anos. Iniciar uma discussão sobre limites ou “não meta o seu nariz onde não é chamada” na casa de outra pessoa pode ser bem deselegante e até mesmo ofensivo para o dono da casa.
Entenderam a situação? Marluce tem que lidar com uma pessoa blindada com duas camadas: a da idade e a outra cujo termo eu vou chamar de “imunidade diplomática”. Naquele “solo” ela não pode ser confrontada.
Então, a adorável e intrometida senhora dificilmente será confrontada, pois não vai deixar de ser idosa e ou está na casa do pai ou na própria. E eu duvido muito que Marluce queira arriscar a ofender uma pessoa dentro de sua própria casa. Eu poderia ter usado a palavra nunca, mas usei dificilmente mesmo, pois Marluce, como tantas pessoas no mundo, tem um certo limite para a sua paciência. Em um determinado momento ela vai explodir e f*d@-se se vai ser na casa do avô do marido, na da sogra, em Mordor, Hogwarts ou o caramba. E aí entra uma verdade que ouvi há uns 10 anos de um sábio velhinho: “Gente besta também envelhece.”
Eis aí o Sarney para provar que o velhinho estava certo, não é? E o sujeito não morre…
E por falar em morte, chegamos a uma imunidade que é automaticamente adquirida quando o indivíduo morre: vira santo. Sim, a criatura pode ter feito outras pessoas de gato e sapato, mas morreu e sua ficha corrida de moralidade (ou da falta dela) é zerada e seus bons feitos agora cantados em prosa e verso saem do mesmo lugar de onde surgem os Balrogs.
Isso me lembra de um garoto na oitava série, que resolveu me fazer de único alvo de bullying. Ele não tinha sido o primeiro a encher o meu saco naquela escola, mas eu resolvi deixar claro que ele seria o último e que aquilo não ia durar tanto quanto ele almejava. Ter ido parar na diretoria algumas vezes por ter enfrentado e descido a mão em quem abusava da sorte, até que valeu a pena. Os folgados da sala não tentavam nada, mas esse era de outra sala e não me conhecia, portanto tentou a sorte. E falhou miseravelmente. O curioso é que depois o infeliz resolveu agir como gente. Mas só comigo, pois ele arrumou outro alvo para os seus escárnios juvenis.
O fato é que 10 anos depois, eu soube que ele tinha morrido. “Ah, que pena”? Uma ova. Eu disse “bem feito” para a pessoa que me contou. O que não senti remorso nenhum de ter dito, principalmente depois de saber que o indivíduo continuou levando a sua vida tirando sarro e humilhando todas as pessoas que eram diferentes dele e fora de seu padrão distorcido do que prestava. Até que um belo dia ele resolveu fazer isso com um criminoso pouco conhecido das redondezas. Que azar, hein malandrão? Boa sorte aí no inferno, campeão.
Aí eu me pergunto se ele também virou santo depois que morreu. Creio que sim.
Agora eu vou matar o tio Ben, de novo: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.”
Usei isso pra ilustrar de forma rápida e simples uma coisa que pode ser facilmente notada, dada a devida atenção é claro, em certas situações: uma pessoa chata/mala/inconveniente/ vil que não é confrontada, se acha capaz de continuar a afetar outras pessoas.
Não, não estou dizendo que devemos sair por aí enquadrando e dando fora em cada imbecil da esquina. Há de se observar as circunstâncias, entre outras coisas. Como com um aparelho que não funciona corretamente: primeiro tentamos a solução civilizada e o levamos até uma assistência técnica, aqui no caso, o uso da razão. Mas às vezes é só o tapão que resolve mesmo pra funcionar. Aquela cacetada com um nível de precisão de deixar até o Legolas orgulhoso, sabe?
Manter-se no silêncio, esperando que a situação passe como se fosse uma tempestade de verão, nem sempre funciona. Mesmo porque nem sempre é tempestade. Às vezes é só um mosquito que não vai te deixar em paz enquanto não levar aquele tapão ou for frito na raquete elétrica. Ficar passivo em excesso só vai te fazer mal, acredite. Todas aquelas sensações ruins vão resultar em algum problema fisiológico. No meu caso foi alergia e algumas erupções na pele que surgem quando o nível de estresse aumenta consideravelmente.
Esse “foro privilegiado” que esses tipos descritos e outros têm, não deve ser algo que possa te intimidar. Observado cada caso em sua devida circunstância, creio que seria até possível dizer que a falta do combate é exatamente o que alimenta tal regalia subjetiva. Pois não dizem que o mal vence quando o justo se omite?
E afinal de contas, acho que é como um outro simpático senhor me disse no ano passado:
“A p#t@ que pariu deve estar cheia de gente mandada pra lá, mas é como coração de mãe: sempre cabe mais um. Mande sem medo.”