[Contexto] Como o primeiro passo foi tomado

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por Luciana Assunção

Eu me lembro como se fosse hoje quando decidi viajar. Havia acabado de perder uma promoção no emprego, estava desanimada e sem perspectivas. Iria ser uma vendedora de shopping pra sempre, era o que pensava.

Nessa época eu percebi que não fazia nada com meu salário: não conseguia comprar bens de valor médio pois meu salário era baixo e pelo mesmo motivo não tinha crédito liberado para comprar a prazo, cartão de crédito possuía um limite bem baixo também.

Por essa razão, acabava com o dinheiro na conta ou comprando roupas baratas e coisas sem muita insignificancia. Sim, era uma vida bem triste, me doía sempre que via algo que queria e não podia comprar.

E então veio pela milésima vez a idéia de estudar inglês no exterior. Já havia tirado o passaporte já tinha um ano e estava lá parado. Me lembrei das outras vezes que tentei e não consegui por não ter cheque, não ter limite ou não ter dez mil reais para pagar. Mas resolvi tentar.

Mas dessa vez não queria Estados Unidos, queria ir para um lugar que gostaria de visitar. O que eu gostava foi fácil de ver porque estava no trabalho quando decidi isso: eu gosto de livros. Aonde foi ainda mais próximo, na seção que trabalhava. Eu gosto do CS Lewis e do Tolkien. E pronto, queria ir pra Oxford (cidade onde os dois se formaram e eram professores). Peguei o telefone, ali na frente da loja mesmo, e liguei.

Fiz duas ligações naquela época: a primeira para a agência STB e a segunda para a CI Intercâmbios. Logo na primeira ligação a pessoa me atendeu, disse o que queria e ela perguntou: “Mas porque Oxford?”, Eu fiquei com vergonha de responder, e falei que era a cidade que gostei e queria. Então o vendedor jogou a conversa “Posso te sugerir Cambridge? É uma cidade universitária como Oxford e está com uma promoção, está mais barata que Oxford. Posso te mandar um orçamento das duas escolas e você dá uma olhada”.

Eu só pensei que o Lewis também trabalhou lá e então aceitei. Ele também me questionou da data, porque iria 14 meses depois e expliquei que tinha que juntar o dinheiro para pagar e e só teria férias no ano seguinte (minhas férias estavam agendadas para o mês seguinte e era impossível pagar tudo de uma vez). Ele entendeu e falou de algo chamado “poupança estudantil”. É uma modalidade que a pessoa adiquire o curso e vai pagando quando puder, o quanto puder. A única regra é estar tudo quitado um mês antes de viajar. O contra é que o pagamento segue a variação do cambio no dia que você faz o pagamento, e isso pode fazer você pagar mais ou menos dependendo do mês que você paga.

Desliguei o telefone e fiz a segunda ligação. Já havia feito orçamento com a CI antes e nunca consegui me adequar com as formas de pagamentos (que eram impossíveis para mim seja ser aprovada ou os valores mensais). Bom, liguei e recebi a seguinte resposta: “Você poderia mandar um email falando o que deseja, estou ocupada e não posso te atender”. Pedi para deixar meu email e ela enviar o orçamento do que queria, como a STB fez, mas ela disse que não e mandou eu enviar o email. E aí desisti da agência.

Recebi o email da STB e realmente, Cmabridge era bem mais barata. Fui pra casa e fiquei fazendo um milhão de contas e como pagaria. Poderia dar a entrada com minhas férias e se cortasse os gastos eu conseguiria pagar até agosto, de setembro a dezembro teria o dinheiro para a passagem e depois era guardar para os gastos lá. Olhei em vários sites pessoas falando da cidade e da agência e me enchi de perguntas que me foram todas esclarecidas.

Naquela mesma semana eu pedi meu irmão o dinheiro emprestado prometendo pagar nas duas proximas semanas, quando receberia minhas férias. Tinha medo de desistir. Mas tomei coragem, assinei o contrato e paguei a entrada. Fui na fé naquele momento. Um mês de curso de inglês na Inglaterra.

Lembro como foram os proximos 14 meses seguintes. Foram uma mistura de desespero, supresas e alegrias. Eu todo mês fazia contas, parei de comprar comida cara, tentava economizar em tudo. Não comprei mais roupa, fiquei 13 meses sem comprar roupas ou sapatos. Não saía muito para economizar e deixei de comprar tudo de qualidade por algo similar e mais barato.

As vezes no meio da rua, indo pra casa, eu me dava conta que eu ia para Cambridge, e não consegui acreditar que eu tinha assinado aquele contrato. Outras achava que enlouqueci e nao ia conseguir pagar. Lembro que chorei de alegria várias vezes na rua, agradecendia a Deus por estar finalmente me dando uma chance de conseguir fazer algo. Pra mim aquilo era impossível e agora estava bem próximo.

Os planos eram para quitar em dezembro curso e a passagem. E para minha surpresa, quando cheguei em dezembro descobri que paguei mais! Ou seja, em novembro já estava tudo quitado. Mais uma vez estava surpresa que tive comigo mesma: eu consegui quitar tudo.

Um mês antes fui as compras. Como não comprava mais roupas e calçados há 13 meses todas as calcas estavam em farrapos (eram de 3 anos antes e terminaram de se acabar) tive que comprar algumas coisas. Não comprei casaco porque iria em maio (e passei frio lá).

O segundo passo foi ter uma síncope dias antes: e se me deportassem? Lembro da minha amiga Mayara me segurar e olhar nos meus olhos “Lu, você irá como turista, tem passagem de volta e está tudo certinho, eles não vão te deportar”.

Essas palavras me ajudaram bastante e lembro que fiquei com um único pensamento: foi Deus quem me ajudou a conseguir, então vai dar tudo certo. Arté quando falaram que a aeronave estava com problemas e ficamos 4 horas esperando o reparo me lembrei disso. E sim, tudo deu certo.

Em 04 de maio de 2013 eu pus meus pés eu solo europeu. Pela primeira vez me senti eu mesma, não me senti deslocada, não me senti um patinho feio. Cheguei lá morrendo de medo  e me sentindo inferior e descobri que era mais forte e superior do que imaginava.

Só depois que voltei que percebi o real tamanho da minha loucura. Eu fui para o país mais caro (a libra era quase o dobro do dólar) com os cursos mais caros. E ainda assim consegui pagar tudo e me sobrou dinheiro na volta, mesmo comprando tudo que não comprei em um ano.

Foram 35 dias fora do planeta Brasil. E cada um dos 35 dias eu agradeci a Deus.