por Ronaldo Silva
E hoje, o assunto é geometria!
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RÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! Pegadinha! Salsifufu!
Não, mas é relacionado a estudo: Educação à distância. No meu caso, semi presencial. Em 2011 eu entrei nesse barco e sinceramente, eu não tinha a menor idéia de como funcionava. Seria a minha segunda graduação, 4 anos depois de uma pós.
Levei uma bela chulapada no primeiro período, pois como sou da área biológica, temos aulas práticas aos sábados. E eu estava me guiando pelo calendário da disciplina ao invés do calendário do pólo. Resultado: mesmo com notas muito boas nas provas e nos trabalhos, tive faltas que provocaram minha reprovação. Aí eu fiquei mais esperto e comecei a “manjar dos paranauês.”
Mas, contudo, todavia, porém, a vida é essa caixinha de surpresas e no melhor estilo Joseph Climber (alô, Cia. De Comédia Melhores do Mundo!), eu levei outra chulapada: os horários das aula práticas das disciplinas que eu deveria repetir, conflitavam com os de outras do período em que eu estava. E algumas eram pré-requisito para outras, ou seja: a cada período que você não as cursa, aumenta o tempo que você vai levar para se formar. E o calendário de provas sempre mudando todo período também não ajudava. De repente, as disciplinas que tinham horários de prova distintos, passaram a ter no mesmo horário.
O horror, o horror. Sem contar o enorme prazer que foi ter uma disciplina que NUNCA teve prova, Estágio 1 ( que basicamente fala nada sobre o nada para nada e não serve para nada), de repente ter apenas UMA prova, e justamente no mesmo horário de uma outra que era pré requisito para outra, que por sua vez era pra outra e esta outra ainda prendia mais uma. Sim, todas as disciplinas têm duas provas, mas um aspirante a rei do camarote no inferno resolveu que isso seria uma boa idéia.
A sensação que eu tive, assim como meus colegas, era a de estarmos equilibrando pratos num programa de auditório ou num número de circo. Com direito a musiquinha do Aram Khachaturian e tudo (joga Sabre Dance na pesquisa do youtube e você vai se lembrar da música). E chega uma hora em que você sabe que algum prato vai ter que cair e tem que escolher com cuidado qual será.
E é aí que está “a parada do bagulho”, como diz um amigo: são os seus colegas, sendo que alguns ou muitos viram amigos, que te ajudam a segurar a barra.
Muitos trabalham, ou têm filhos ou alguma outra coisa que deixa a vida bem corrida. E chamando a atenção do outro para qual prato girar mais um pouco pra não deixar cair, é que vamos avançando. Porque apesar de na aula inaugural a diretora alertar que devemos ter disciplina para avançar, ninguém avisa sobre casos como o meu e de tantos outros. Era comum bolarmos estratégias de como dar aquele gás para ir bem na primeira prova de uma disciplina, mesmo que significasse ir mal em outra, para poder relaxar na segunda prova e então dedicar-se mais para a segunda prova da outra. Isso geralmente dava certo ou quase: íamos para a prova final precisando de pouco.
Mas o fato é que estudar em casa sozinho nesse negócio é complicado. Muitas distrações e convites à procrastinação (facebook e outros mandam lembranças) não faltam. Quando a disciplina é mais complicada e exige um tempo maior de leitura e exercício do raciocínio, interrupções constantes podem ser fatais. Você perde o fio da meada e fica difícil retomar o ritmo.
Muita gente diz: “Ah, faculdade à distância é mole.” Uma ova. Apesar de termos dispositivos na plataforma para tirarmos dúvida, o curso presencial tem a vantagem do professor pra tirar a dúvida ali na hora. E nem todos conseguem manter um horário fixo em casa ou em algum outro lugar para o estudo. Já perdi a conta de quantas vezes fui dormir de madrugada pra tentar terminar de ler coisas que não consegui direito mais cedo porque tinha que ficar com um filho no colo pra fazer dormir. Ou ler resumos para a prova, na escada pro segundo andar da casa, pois era o único lugar da casa onde o lixo sonoro dos funkeiros do local não era tão intenso, enquanto o resto da casa tremia.
Ser acordado de madrugada, interrompendo o descanso antes de uma prova complicada, por cortesia do pancadão de um bando de vagabundos imbecis também foi algo desafiador. Se “Uma noite de crime” um dia virar realidade, eu já tenho os meus alvos, digamos assim.
Mas realmente, a união faz a força. Quantas vezes não desanimamos, mas aí alguém do grupo dá aquele incentivo ou faz uma brincadeira pra descontrair e aliviar o peso. E quando falhamos, sempre tem alguém ali pra te incentivar mais uma vez, pra acreditar em você, mesmo que você mesmo não acredite e tudo esteja desfavorável.
E quando surgem convites pro final de semana e não podemos ir por causa das provas, que são aos sábados e domingos? Quando dizemos “Não dá, tenho prova”, nos olham como se fôssemos um deputado mentindo no plenário. Aquele camarada te chama pra um churrasco ou festa e você lá na sofrência. Fazendo a maldita prova e olhando pela janela da sala, no meu caso pensando “O que raios eu fiz pra parar nesta situação?”
Em certas ocasiões até começou a tocar na minha cabeça “Sentado à beira do caminho”, uma música do Erasmo Carlos:
“Preciso acabar logo com isso.
Preciso lembrar que eu existo. Que eu existo, que eu existo.”
A sensação era realmente de estar sentado à beira do caminho.
Mas lá estavam os amigos pra me fazer acreditar e perseverar como se eu fosse um dos 300 de Esparta ouvindo o discurso do rei Leônidas. Pena que às vezes terminávamos massacrados também.
E chega um momento em que você começa a reparar nos calouros e suas carinhas felizes: “Há, eles mal sabem onde se meteram.” E as carinhas não tão felizes dos alunos do terceiro período então? Superadas apenas pelo tormento estampado no rosto da maioria dos veteranos.
Mas lá estão novamente os amigos pra te ajudar a não deixar a peteca cair, senão você acaba engolido como o Boba Fett foi engolido pelo Sarlacc em O Retorno de Jedi.
Então, se você estiver em situação similar, persevere! E conte com seus amigos, assim como eles possam contar com você. Nessa de educação à distância, a reta que será a menor distância entre os dois pontos que são você e o diploma, é composta pelos seus amigos e todos aqueles que te apoiarem na jornada.
Agora com licença, que eu preciso voltar a estudar. Tenho duas provas no sábado, sério.
“Preciso lembrar que eu existo…”
Agradecimentos ao pessoal da minha “reta”:
Amanda, Agatha, Nilson, Rodrigo, Thaís, Joyce, Raquel, Erika, Richard, Fábio, Robson, Gilmar, Bruna, Rosaura, Carlos e Wania.