[Contexto] O Carnaval e a Nova Economia

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por Vinícius Schiavini 

Que nossa sociedade está em plena transformação que muita gente só perceberá ao ler em livros de História, já sabemos. Aliás, essa transformação é tão forte que estamos agora enfrentando uma onda de resistência muito forte. Sim, hoje em dia a resistência não é a turma subversiva, mas os que não suportam isto.

Uma destas transformações está na economia. Depois de sessenta anos sem uma guerra mundial, nossos hábitos mudaram consideravelmente. Antes, pensávamos em estocar comida porque não sabíamos nem por quanto tempo poderíamos comprar comida nem quanto ela custaria por conta da inflação. (Esqueça o Estado Islâmico, o terrorista até 1994 se chamava Inflação) Agora, podemos ir comprando conforme necessidade, o que também diminui a questão de espaço. O que nossos pais faziam, de fazer “a compra do mês” e estocar na dispensa, não cabe tanto nos tempos de hoje, e eles mesmos se acostumaram.

Com isso, os negócios locais ganharam força. Ao invés de uma grande e imensa rede de supermercados, mercados locais, com um atendimento mais próximo e pessoal, com itens mais selecionados, ganham espaço em nossos corações. Indo para casa, na região da Santa Cecília, eu passo por aquela doceria e compro o suco ou refrigerante que prometi comprar para o jantar mais-ou-menos especial. Indo para a casa da amiga Ana, no Leblon, eu passo pelo mercadinho e compro umas maçãs, que ela adora.

Ok, você veio aqui por conta do Carnaval.

Está na hora de acabar a forma como as Escolas de Samba existem hoje em dia, e o Carnaval 2017 foi uma prova disso. Não há questão de maldade, mas o fato é que essas Escolas, em seus desfiles, enfrentam um nível de exigência tão alto que precisam sempre ser maiores, melhores, mais coloridas e com mais pessoas. No Rio de Janeiro, três escolas enfrentaram problemas terríveis com carros alegóricos, sendo que dois deles resultaram em pessoas feridas sendo levadas para hospitais próximos. Os motivos? Carros muito grandes, muito pesados, com uma estrutura que não suportaria tantas pessoas, e assim vai. São espetáculos cada vez maiores e mais perigosos, que precisam de explicações para entender diversos pontos. Se não houvesse o comentarista, você entenderia que aquela mulher bonita seminua está representando uma arara?

(Não sei se houve alguma mulher fantasiada de arara ou mesmo se houve algum enredo cujo tema envolvia araras. Foi um exemplo aleatório. Se acertei na realidade, foi sem querer.)

Em contraponto temos os blocos. Os blocos que aumentaram significativamente nos últimos anos. De 306 blocos em 2016, 495 foram cadastrados junto à Prefeitura de São Paulo para 2017, representando um aumento de 60%. É um aumento muito grande.

Um bloco só foi criado em 2010 com 10 pessoas participando. Em 2017, a estimativa de participação era de 10 mil pessoas.

Mas o que causa aumento tão grande?

Blocos possuem temáticas que podem ser diversas. Você pode acompanhar Alceu Valença, ouvir punk em forma de samba ou músicas infantis em um bloco infantil. Pode ser em qualquer parte da cidade, de forma organizada, tomando as ruas, que são do povo, para o povo. Pode se vestir, se fantasiar e pode ir participar sem precisar pagar um valor para uma organização. É só ir e fazer parte. E tudo bem ir em um bloco no domingo, outro na segunda e outro na terça. E a organização do bloco pode ser colega de faculdade, o dono do açougue do bairro, a sua vizinha. Pessoas que você conhece, e entende como funciona o giro de capital para investimento em instrumentos, estandarte, equipamentos de som.

Preciso levantar questionamentos sobre a origem do dinheiro de Escolas de Samba? Não, né?

Então, se for observar em números, está muito mais interessante criar ou participar de blocos, algo muito mais local, aberto, democrático, do que continuar se submetendo a instituições milenares que exigem um comportamento muito similar a futebol (no pior sentido) que são tão grandes que estão caindo – literalmente.

Há espaço para todos. Todos podem se divertir – até mesmo se você, que lê isso, prefere maratonar algo na Netflix. Mas não precisamos mais aceitar que nossa diversão, nossa economia e nossa sociedade precisam funcionar somente de uma maneira.