[Contexto] Detalhismo

3876
0

por Vinícius Schiavini 

O artista da foto acima é Ali Alamedy, um turco especialista em dioramas e maquetes. Não há montagem: a sala na foto foi feita por ele em miniatura. Dá pra conferir toda a fantástica obra dele no portfolio oficial do Ali.

Claro que não coloquei isso por nada. Adoro dioramas por um simples detalhe: adoro detalhes. E eles fazem toda a diferença ao produzir conteúdo, por exemplo.

Uma vez fui convidado para um projeto em que seria o produtor-chefe. No roteiro, a instituição de ensino retratada soaria o sinal para que os alunos fossem para as aulas. Porém, a mesma instituição não tinha tal sinal (que seria inserido na edição). Um detalhe, sim, mas que faz toda a diferença para a instituição da verosimilhança. Esse foi um sinal de que o projeto não ia ficar bom. Ainda bem que saí antes deste trem bater e explodir.

Hoje em dia, parece que as pessoas minutam-se mais e mais pelo básico e pelo desespero, desprezando e destituindo cada primeiro ou segundo pensamento de aprimoramento, a priori, em troca de audiência fácil (ou assim se parece, no médio prazo, até que tudo seja difícil). Está um tal e qual banal de vitrines com pessoas fazendo caretas mais bestas e setas vermelhas (o que me deixa rubro de vergonha), com opiniões optando por serem extremistas, algo que pode te deixar com muita raiva ou muito feliz.

E recebo de amigos uma exaltação extra sobre um áudio de uma barbearia que se utiliza de edição para “viajar” entre os lados da sua audição. Auditando o mesmo, é fácil perceber que ele é bem-sucedido pelos detalhes. Cada pontinho do áudio teve seu ponto no roteiro, rolando segundo a segundo (ao contrário, digo agora, do que se faz hoje em dia) e inserindo cada implicidade calmamente.

Cada trabalho de conteúdo, seja ele texto, áudio ou vídeo, deve ficar redondo (não seja quadrado, pense mais ao cubo) através de um cuidado, um carinho, uma calma diante de detalhes determinantes de depurar, descrever, desenvolver… Publicar, então, é o ápice. É apresentar a todos, abrir o toldo ou cortina, com orgulho. E felicidade caso alguém perceba aquela sincronia sutil.

Aí é quando o cérebro brilha.