por Francisco Geovane
A Série B do Brasileirão começa com polêmica. Na verdade, era esperada uma polêmica sim, mas envolvendo o Bruno, goleiro que ia jogar pelo Boa Esporte, mas voltou pro xilindró.
Surgiu uma outra, tão séria quanto, e que escancara uma das várias feridas da nossa sociedade.
Quem curte o esporte bretão deve conhecer o Richarlyson. Ele, assim como seu irmão Alecsandro, são filhos de boleiro – o Lela, que foi campeão brasileiro pelo Coritiba em 1985, e é reconhecido pela sua comemoração-careta, que o AlecGol costuma repetir hoje em dia.
Assim como seu pai e seu irmão, Richarlyson é considerado um bom jogador. Ouvi falar dele pela primeira vez aqui no Fortaleza, quando o tricolor se aventurou pela Série A, em meados dos anos 2000.
Seu desempenho no Leão o colocou no futebol austríaco, mas voltou ao Brasil para defender o São Paulo, onde participou ativamente do time tricampeão brasileiro (2006, 2007, 2008), além de ser campeão mundial em 2005.
Além disso, foi campeão da Libertadores com o Atlético-MG em 2013. Em 2014, quando jogava no Vitória, foi rebaixado e decidiu se aposentar, desistindo da idéia um ano depois, quando assinou com a Chapecoense.
Deu uma parada ano passado após jogar a SuperLiga indiana, e volta para jogar a Série B do Brasileirão desse ano pelo Guarani de Campinas.
Fiz questão de dar um espaço no post para listar a trajetória do Richarlyson para você entender que ele tem uma história no futebol. Pode ser questionado por ser um reforço de risco pelo tempo de inatividade, mas não estão pegando no pé dele por conta disso.
Após longa negociação, Richarlyson foi contratado pelo Guarani, mas foi recebido com bombas no Brinco de Ouro e revolta da torcida bugrina nas redes sociais E tudo por, supostamente, ser homossexual.
E aqui eu faço um mea culpa, querendo ou não. Em muitos momentos, o humor – esportivo no caso, mas é facilmente generalizado – extrapola os limites do respeito ao ser humano.
Richarlyson nunca abertamente se declarou homossexual, nem mesmo nas inúmeras entrevistas que deu sobre o assunto. Creio que, hoje em dia, depois de tanta patada, ele não teria motivos para “se esconder”.
Mesmo assim, nós fazemos montagens, ficamos apontando para o ~jeito~ dele, zoando e ridicularizando. Talvez por não agir como o “boleiro padrão”, pegador de mulher, bebarrão, fugidor de concentração, com declarações polêmicas… Ou por puro preconceito mesmo, continuamos a fazer chacota dele.
Eu, no antigo BnCi e na atual Arena Geral, tentei e tento me policiar ao máximo sobre esse tipo de piada. Não vou aqui dizer que não faço, mas prefiro não forçar piada, como muitos fazem.
Podem ser piadas feitas inocentemente ou com uma “malícia sem maldade” com a pessoa, mas pode ser assimilada por pessoas idiotas como incentivo ao preconceito, que alimenta a homofobia, infelizmente tão entranhada na nossa sociedade.
Me lembro de um podcast BnCi em que falamos sobre a torcida organizada gay do Atlético-MG – a Galo Queer. Coincidentemente, Richarlyson estava no Galo na época. Fizemos o hu3 como sempre, mas destacamos também a importância de torcidas assim, que representem de fato o torcedor do clube. Afinal, a única exigência para ser um torcedor é TORCER, e nada mais.
Antes de reclamar de politicamente correto com as suas piadas com homossexuais, antes de postar algo, você pode fazer o filtro da empatia: e se fosse com você? Como você se sentiria?
Experiência própria: ajuda pra caramba. Não que eu tenha deixado de fazer piadas com o São Paulo ou o Fluminense, mas algumas “brincadeirinhas” ficaram no filtro.
Para termos um mundo mais igual, precisamos respeitar as nossas diferenças. Clichê, mas sempre é atual.
E nós (eu e você que está lendo)? Estamos dispostos?