[Contexto] Perseverança

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por Edson Oliveira

Uma leve fisgada na planta do pé direito, um repuxão no joelho esquerdo. Primeiros passos. Primeiro quilômetro.

Uma sensação de que as costas não estão alinhadas. Uma tentativa de ajeitar a própria coluna, enquanto tenta manter a respiração e a passada no mesmo ritmo. Segundo quilômetro.

Concentração para manter a respiração ritmada. A passada diminui. Esforço para recuperar o ritmo da corrida. Terceiro e quarto quilômetros.

A respiração normaliza, a passada se restabelece, de maneira alguma misteriosa, quase mágica. Quinto quilômetro.

A partir daí, você pode continuar correndo quase sem preocupação. Se está com fones de ouvido, é a partir daí que você realmente ouve a música.

Aquele que resolveu se exercitar, e escolheu a corrida como seu esporte, conhece a barreira dos cinco quilômetros. Normalmente conhecido como “primeiro desafio”.  Passada essa barreira, esse desafio, os próximos não são tão difíceis. A parte mais difícil é o começo.

Mas engana-se aquele que pensa que, vencidos os cinco quilômetros, a gente se torna um super-herói. Não.

Cada vez que você levantar da cama , como o intuito de sentir o vento na cara, e o asfalto sob os pés, a barreira vai estar lá, á sua espera.

Às vezes mais fácil, menos dor, menos cansaço; por outras, um esforço hercúleo a cada passo, e um pensamento de “por que estou fazendo isso?”

Mas uma coisa é verdadeira: você venceu a barreira uma vez, duas vezes, dez vezes. E isso te dá o conhecimento para vencê-la novamente.

Na primeira vez que superei os quinze quilômetros, levei mais de duas horas, mal conseguia respirar, e fiquei dois dias sem andar direito.

Na última vez, voltei assobiando.

Em meu último texto, falei de contentamento, e de etapas conquistadas. Save points.

Mas existem ocasiões na vida, em que temos que recomeçar.

Parece que, após uma certa idade, a vida nos apresenta mais “start again” do que “continue”.

Emprego, saúde, família…

Situações em que paramos e pensamos: “não consigo continuar”.

Esse é o momento em que olhamos pra baixo, e pra baixo continuaremos olhando, se não percebermos a linha no chão, e todos enfileirados, prontos pra corrida.

No dia-a-dia, todos estamos correndo. Uns, com dores, outros, mais serenos.  Mas uma coisa é certa: você pode parar por causa da dor, mas a dor não vai parar. Mas, quando você vence a barreira, você vence também a dor. Você entende que ela tentou te impedir nos primeiros passos, mas você continou. Você sabe que essa dor mudou e se moldou nos quilômetros seguintes, mas você superou.

Você já sabe que a dor não estará lá para sempre.

Porque ela já esteve à sua frente, depois junto a você, e então você a ultrapassou.

Você já venceu a barreira uma vez. Você já venceu a dor uma vez.

Você respira fundo, esboça um sorriso e se prepara para a largada. Você sabe que vai vencer de novo.